Por Svitlana Romanko

Gerente de Campanhas de Zero Combustíveis Fósseis
Movimento Católico Global pelo Clima

O Dia Mundial do Meio Ambiente, todo 5 de junho, nos dá tempo para lembrar da importância da natureza para a nossa existência. Mas será que esquecemos de lembrar o que a Terra nos fornece todos os dias?

Como diz o Papa Francisco na Laudato Si’, “uma verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres.” A crise da biodiversidade também é uma crise de justiça.

Outra crise à qual a biodiversidade está ligada é a crise climática que piora as injustiças sociais, econômicas e climáticas. Ambas são alimentadas pelo uso extensivo de combustíveis fósseis e pelo consumo excessivo.

A biodiversidade tem sido tipicamente associada a mudanças ecológicas mais permanentes nos ecossistemas, nas paisagens e na biosfera global, e somente hoje em dia ela se tornou fortemente associada a uma perda.

Um milhão de espécies estão sob ameaça de extinção, e as populações de animais monitorados diminuíram em 68 por cento desde 1970. Desastres ecológicos aumentaram muito nos últimos anos conforme a atividade humana, mineração, exploração, transporte e combustíveis fósseis causam uma mudança perturbadora nos ecossistemas e destroem a natureza de várias maneiras.

Em todas as regiões do planeta ouvimos o grito da Terra, através do Oleoduto de Petróleo Bruto da África Oriental, o Projeto LNG de Moçambique, a história do carvão de sangue em uma das maiores minas de carvão do mundo na América Latina.

Também ouvimos o grito da criação na política estadual de apoio ao óleo de palma/biocombustível na Indonésia, que vai piorar o desmatamento, aumentar as emissões de gases de efeito estufa e levar à perda de biodiversidade.

Desde o início dos combustíveis fósseis no final do século 17, sua produção levou a novas abordagens coloniais nos países em desenvolvimento, aprofundando a injustiça para as comunidades locais, sua saúde e seus meios de subsistência.

O Oleoduto de Petróleo Bruto da África Oriental deve levar à a perda de cerca de 14.000 lares em Uganda e na Tanzânia, e centenas de famílias precisarão ser reassentadas, enquanto outras milhares serão afetadas e perderão seus meios de subsistência.

Testemunhamos muitas dessas histórias e acredito que podemos fazer algo a respeito. Como pessoas católicas comprometidas com a justiça climática, podemos ajudar as comunidades locais e os povos indígenas a proteger suas terras, meios de subsistência e biodiversidade. Nós devemos fazer isso.

A década de 2021-2030 foi oficialmente anunciada pela ONU como uma década de proteção e restauração da biodiversidade. Como o relatório da ONU afirma, o valor financeiro da natureza deve ser considerado para evitar a degradação “irreversível” da biodiversidade e da terra. Se o mundo deseja atingir as metas de mudança climática, biodiversidade e degradação da terra, ele precisa fechar uma lacuna de financiamento de US$4,1 trilhões na natureza até 2050.

Mais da metade do PIB global depende de uma biodiversidade de alto funcionamento, mas apenas cerca de 20 por cento dos países correm o risco de seus ecossistemas entrarem em colapso devido à destruição do mundo natural, de acordo com uma análise da seguradora Swiss Re no ano passado

Mas pensar em termos de PIB é apenas uma parte do esforço. Outra parte está em desviar os fluxos financeiros dos combustíveis fósseis.

Investir apenas 0,1 por cento do PIB global todos os anos em agricultura restaurativa, florestas, gestão da poluição e áreas protegidas para fechar uma lacuna financeira de US$4,1 trilhões até 2050 poderia evitar o colapso dos “serviços” do ecossistema natural, como água limpa, alimentos e proteção de inundações, afirma o relatório.

Onde conseguir esse dinheiro? Para governos e bancos, a resposta seria parar de subsidiar, investir e fornecer empréstimos para a indústria de combustíveis fósseis. Para indivíduos e instituições, existem várias opções a serem consideradas.

Como o relatório “The Economics of Biodiversity: The Dasgupta Review” afirma, todos nós somos gestores de ativos. Indivíduos, empresas, governos e organizações internacionais gerenciam ativos por meio de nossas decisões de gastos e investimentos. Coletivamente, no entanto, falhamos em gerenciar nosso portfólio global de ativos de forma sustentável.

Nenhum investimento em novos projetos de fornecimento de combustível fóssil, e nenhuma outra decisão definitiva de investimento em novas usinas de carvão pode ser feita a partir de agora, afirma o relatório da IEA sobre Carbono Zero até 2050. Chegou a hora de acabar com os combustíveis fósseis, investir no capital natural e restaurar a biodiversidade que foi explorada de forma implacável durante anos.

Alguns de nós já estão ativamente desinvestindo em combustíveis fósseis como as 253 instituições católicas fizeram até hoje.

Alguns de nós podem fazer isso agora, simbólica e moralmente, assinando a petição “Planeta Saudável, Pessoas Saudáveis” pela proteção da biodiversidade

Desinvestir nossas vozes e nossa licença social dos combustíveis fósseis é tão importante quanto praticar o que pregamos.