Credits: Vatican Media

  • O bloco de gelo que acompanhou a conferência e foi abençoado pelo Papa Leão XIV foi derretendo ao longo dos três dias. Como resultado, os participantes recolheram água benta para levar para suas casas e comunidades em todo o mundo.
  • Cerca de 1.000 participantes de 80 países reuniram-se nesta conferência sem precedentes em Castel Gandolfo, Roma, para celebrar os dez anos da encíclica Laudato Si’ e debater questões controversas relacionadas à crise climática.

O terceiro e último dia da Conferência Raising Hope aconteceu com novas palestras, momentos de reflexão, oração, música e um momento central: as contribuições dos participantes e os compromissos assumidos, apresentados como eixos fundamentais para agir em torno da justiça climática.

No site raisinghope.earth/pt/compromisso/ , os participantes, tanto presenciais como virtuais, foram convidados a compartilhar suas próprias contribuições: Como você responderá ao clamor da terra e ao clamor dos pobres? Essas Contribuições Determinadas pelo Povo (PDC) são uma ousada iniciativa global da sociedade civil para apresentar os compromissos de pessoas e comunidades de base rumo à transformação ecológica.

A água de Raising Hope chegará à COP30

A emocionante abertura conduzida na quarta-feira pelo Papa Leão XIV — ao abençoar um bloco de gelo da Groenlândia — teve seu ponto culminante nesta tarde, quando os participantes recolheram a água, fruto do gelo derretido, para levar para seus lares e comunidades.

A Dra. Lorna Gold, diretora executiva do Movimento Laudato Si’, declarou com emoção: “Um bloco de gelo abençoado pelo Papa se tornou viral nestes dias. Agora, esta água benta se transformará em algo muito poderoso, pois chegará à COP30, no Brasil.”

Cada participante pôde levar consigo, em uma tigela, parte dessa água benta — proveniente em parte do gelo glacial, misturada com a água dos rios do mundo que, no início da conferência, foi oferecida por diversos representantes. Isso não foi apenas um presente, mas um sinal da urgência que a crise climática exige, marcado ao mesmo tempo pela esperança transmitida pela bênção papal.

Voltar ao coração e levantar a voz

Outro dos momentos-chave do encerramento do evento aconteceu quando a Dra. Lorna Gold partilhou alguns dos compromissos assumidos pelos participantes. Entre os mais destacados estiveram a força da colaboração, a importância das alianças, o compromisso de voltar ao coração e de promover o Programa de Animadores Laudato Si’, desenvolvido pelo MLS.

Ela também falou da importância da implementação: “Não podemos esperar que outros façam. Temos que implementar as mudanças que estão em nossas mãos,” afirmou a Dra. Lorna. E incentivou a levantar a voz juntos em Belém, Brasil (próxima COP), ao mesmo tempo em que será lançada uma nova aliança para a não proliferação de combustíveis fósseis.

Ação de graças pelos 10 anos do MLS

Um momento emocionante ocorreu na ação de graças pelos dez anos de história do Movimento Laudato Si’, fundado em janeiro de 2015. A Dra. Lorna Gold lembrou quando, nesse mesmo ano, conheceu Tomás Insua, cofundador, e ficou impressionada com seu entusiasmo e energia em difundir os valores da encíclica.

“O mais extraordinário do nosso movimento é a alegria,” garantiu, encorajando todos a “levar essa alegria para a COP.” Recordou ainda o Papa Francisco quando chamou a “cantar ao longo do caminho,” pois “a nossa preocupação não deve tirar de nós a alegria nem a esperança.”

Por sua vez, Yeb Saño, presidente do Conselho Diretor do Movimento Laudato Si’, exortou os presentes a gravar na memória tudo o que foi vivido na conferência para que “todas essas razões nos empurrem para fora da cama todas as manhãs.” “Temos muito trabalho pela frente, mas o Papa Leão está do nosso lado. Não se trata de correr à frente, mas de avançar todos juntos.”

Laudato Si’, para comunidades corajosas

Na abertura da manhã, destacou-se a participação de Kumi Naidoo, presidente do Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis, que se definiu como um “prisioneiro da esperança.” Ele afirmou que devemos cuidar do nosso ambiente porque “não há trabalho nem seres humanos em um planeta morto.”

“As comunidades católicas, através de Laudato Si’, demonstraram coragem,” afirmou Naidoo, por isso incentivou que, com sabedoria e fé, possamos debater e agir com urgência. “A esperança não é amor; a esperança é resiliência, a esperança é uma missão.”

A resiliência dos povos

O painel seguinte, intitulado “A fé e a missão compartilhada por um planeta resiliente”, foi moderado por Josianne Gauthier, secretária-geral da CIDSE (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade). Entre os principais temas discutidos estavam o financiamento para os países em desenvolvimento e a resiliência como motor para seguir em frente.

A Dra. Maina Vakafua Talia, ministra do Interior, Mudança Climática e Meio Ambiente de Tuvalu, disse que, embora em sua língua nativa não exista a palavra resiliência, seu povo aprendeu a “passar da vulnerabilidade à força” depois de sofrer múltiplas catástrofes climáticas. Ela também destacou a importância da espiritualidade para construir um futuro resiliente.

A Dra. Svitlana Romanko, fundadora e diretora da Razom We Stand, falou sobre seu país, a Ucrânia, e como o uso de combustíveis fósseis como consequência da guerra deteriorou o povo. Ela afirmou que a resiliência hoje os mantém de pé, juntamente com iniciativas como energias renováveis e economias verdes, pois viver de energia limpa é possível.

Dom Robert Vitillo, do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e da Plataforma de Ação Laudato Si’, trouxe sua contribuição a partir do Evangelho: “Somos ensinados sobre solidariedade e temos que mudar a perspectiva para traduzi-la em ações em nosso compromisso.”

Ouvir as periferias

À tarde, o último painel contou com a participação de Bianca Pitt, fundadora da Women’s Environment Network e cofundadora da SHE Changes Climate, como moderadora. O debate girou em torno do que o coração nos diz sobre o que vivemos nestes dias.

Catherine Coleman Flowers, bolsista MacArthur e defensora da saúde ambiental, membro do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, falou a partir de sua perspectiva de como as pessoas das periferias são as que mais sofrem e as que menos são ouvidas.

Por sua vez, Dom Ricardo Hoepers, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, falou sobre a diversidade de seu país e como é necessário que cada um saia de seu lugar para ampliar os horizontes: “Meu sonho para o Brasil é unir Laudato Si’ e Fratelli Tutti; e que a natureza e os seres humanos tenham a mesma importância: a natureza é o espaço que Deus nos deu para viver como irmãos.”

Antes de concluir, os participantes tiveram um momento final de oração e reflexão, conduzido por membros da Trócaire. Após a exibição de um vídeo resumo de tudo o que foi vivido, foram convidados a recordar os momentos mais marcantes dos três dias e a se comprometer solenemente com a continuidade do caminho, defendendo a casa comum.