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Conferências Católicas do Sul Global divulgam declaração conjunta sobre a COP 30

Principais lideranças da África, Ásia e América Latina se unem pela primeira vez para reivindicar ações climáticas

Os bispos católicos da África, Ásia, América Latina e Caribe emitiram sua primeira declaração conjunta. Juntos como representantes do Sul global, eles exigem uma “implementação ambiciosa do Acordo de Paris” e expõem o compromisso da Igreja com a ação antes da COP 30.

O apelo conjunto, que foi anunciado em conferência de imprensa na Sala de Imprensa do Vaticano e está disponível aqui, foi escrito coletivamente por conferências e conselhos episcopais continentais, órgãos máximos da hierarquia católica. Juntos, esses organismos representam quase 821 milhões de católicos em toda a África, Ásia, América Latina e Caribe, de acordo com o Escritório Central de Estatística da Igreja do Vaticano.

A declaração aprofunda a posição da Igreja Católica como força moral, pressionando governos a tomar medidas reais em relação à crise climática. Ao mesmo tempo em que muitos estados avaliam retroceder em seus compromissos climáticos, as conferências exigem que “os Estados implementem NDCs ambiciosas numa escala compatível com a emergência climática e comuniquem ao mundo como implementarão as decisões coletivas tomadas em COPs anteriores, incluindo uma transição energética socialmente justa”.

Identificando claramente “quem está destruindo a Terra e quem está oferecendo falsas soluções”, a Igreja Católica no Sul global exige “uma transição da energia baseada em combustíveis fósseis e a interrupção de novas infraestruturas relacionadas, com prazos definidos, medidas concretas de responsabilização e políticas públicas” que também “enfrentem esquemas de compensação de carbono e a financeirização dos bens comuns”. As lideranças instam os decisores políticos a “eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, acabar com todas as novas infraestruturas relacionadas e taxar adequadamente aqueles que lucraram”.

As conferências oferecem uma perspectiva forte sobre o financiamento climático, afirmando que “as nações ricas devem pagar a sua dívida ecológica com financiamento climático justo, sem endividamento adicional do Sul Global, para recuperar perdas e danos na África, Ásia, América Latina e Caribe e Oceania”. Elas se referem a decisões recentes patrocinadas pela ONU, dizendo: “após a profunda decepção causada pela Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG), exigimos que o financiamento climático seja transparente, acessível e entregue de forma direta e eficaz – sem intermediários – às comunidades mais vulneráveis, garantindo que os bancos de desenvolvimento e as instituições financeiras não invistam em combustíveis fósseis e em projetos extrativistas, e que não se baseie na financeirização da natureza nem aumente a dívida dos países do Sul Global”.

As lideranças destacam também a justiça na transição energética, dizendo: “defendemos a justiça climática, que garante que as decisões da COP 30 e outras priorizem as pessoas empobrecidas em detrimento da lógica corporativa que aprofunda as desigualdades”. Com atenção especial tanto aos danos desproporcionais às mulheres como à sua capacidade de liderança, apelam a “políticas e programas descentralizados de energias renováveis” que “promovam trabalho decente para mulheres em todos os níveis, apoiando o empreendedorismo feminino no setor de energia renovável”.

Entre outros compromissos, as conferências anunciam que criarão o “Observatório Eclesial de Justiça Climática, por meio da Conferência Eclesial da Amazônia, para monitorar os compromissos das COPs e seu cumprimento no Sul Global, bem como denunciar compromissos não cumpridos”. Reafirmam que a Igreja Católica “não deixará de levantar a sua voz contra as injustiças ecológicas e sociais, lembrando que o clamor da Terra é também o clamor dos pobres”.

O lançamento do documento ocorre durante o décimo aniversário do Acordo de Paris sobre o clima e o décimo aniversário da Laudato Si’, a encíclica histórica do Papa Francisco sobre clima e ecologia. O Papa Francisco foi ativo no incentivo à adoção do Acordo de Paris, e o Vaticano tem promovido consistentemente ações urgentes e ambiciosas contra as mudanças climáticas na última década. Este ano, o ministério socioambiental do Vaticano, o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, está liderando uma campanha de um ano chamada Espalhando Esperança para incentivar a ação contínua.

A declaração do Sul global baseia-se nessa história, ao mesmo tempo que reconhece a nova liderança do Papa Leão XIV, particularmente a sua primeira declaração como papa incitando a Igreja a “construir um mundo novo onde reine a paz”.

O Bispo Allwyn D’Silva, Presidente do Escritório de Desenvolvimento Humano da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas, declarou: “Os combustíveis fósseis pertencem ao passado; o futuro deve ser alimentado por energia limpa e renovável. O Sul Global, incluindo comunidades em toda a Ásia-Pacífico, detém a sabedoria e a experiência necessárias para garantir que esta transição seja justa e equitativa para todos”.

Lorna Gold, Diretora Executiva do Movimento Laudato Si’, uma rede global de católicos pela justiça climática e ecológica, afirmou: “O Sul global está mostrando ao Norte global o que é uma verdadeira liderança. Enquanto vemos muitos Estados recuando em suas metas climáticas, a Igreja Católica está se posicionando por soluções reais e justas para a crise climática”.

Dom Vicente de Paula Ferreira, Bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, Brasil, e Presidente da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, disse: “A Igreja do Sul Global eleva seu clamor por justiça climática e cuidado com a nossa Casa Comum. Com coragem, oferece seu testemunho profético por meio de um documento emitido pelas conferências e conselhos episcopais da América Latina e Caribe, África e Ásia. Este texto reúne doutrina socioambiental e experiências práticas em diálogo com a ciência.

É um grito de muitas vozes em defesa dos direitos humanos e de toda a criação, que denuncia as falsas soluções do capitalismo verde, sua voraz financeirização da natureza e a violência causada por grandes projetos de mineração e transações energéticas. Tudo isso em nome de um modelo de desenvolvimento que beneficia apenas uma pequena parcela da população global, enquanto condena milhões à miséria.

No entanto, é também uma mensagem de esperança, mostrando que a sustentabilidade da vida na Terra depende da proteção das florestas, das fontes de água, da agroecologia, dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, das mulheres e de outros. Que este documento inspire não apenas setores de nossas igrejas, mas também a sociedade global a abraçar um novo modo de vida baseado na ecologia integral.

 

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Informações para editores:

Os infográficos que acompanham esta matéria estão aqui

Uma conferência de imprensa será transmitida ao vivo aqui às 11h00 CEST do dia 1º de julho. A transmissão ao vivo será no idioma original dos palestrantes.

Os palestrantes são os signatários da declaração:

  • Cardeal Jaime Spengler, presidente da Conferência Episcopal Latino-Americana e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
  • Cardeal Filipe Neri Ferrão, presidente da Federação das Conferências dos Bispos da Ásia
  • Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar bem como uma representante do órgão que auxiliou na coordenação da declaração:
  • Dra. Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina.