“Louvai o Senhor por seus grandes feitos, louvai-o por sua imensa grandeza. Tudo o que respira louve ao Senhor!” (Sl 150, 6).
“Cada criatura tem uma função e nenhuma é supérflua… Desde os panoramas mais amplos às formas de vida mais frágeis, a natureza é um manancial incessante de encanto e reverência. Trata-se duma contínua revelação do divino… compreende-se melhor a importância e o significado de qualquer criatura, se a contemplarmos no conjunto do plano de Deus… A interdependência das criaturas é querida por Deus.” (LS 84-86)
Por Frei Wellington Buarque, Ordem dos Frades Menores, Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, e Animador Laudato Si’
“Os recursos da terra estão sendo depredados também por causa de formas imediatistas de entender a economia e a atividade comercial e produtiva. A perda de florestas e bosques implica simultaneamente a perda de espécies que poderiam constituir, no futuro, recursos extremamente importantes não só para a alimentação, mas também para a cura de doenças e vários serviços. […]
“Entretanto, não basta pensar nas diferentes espécies apenas como eventuais ‘recursos’ exploráveis, esquecendo que possuem um valor em si mesmas. Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais, que já não poderemos conhecer, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre. A grande maioria delas extingue-se por razões que têm a ver com alguma atividade humana. Por nossa causa, milhares de espécies já não darão glória a Deus com a sua existência, nem poderão comunicar-nos a sua própria mensagem.” (LS 32-33).
A biodiversidade é um bem comum essencial para a sobrevivência da humanidade na Terra. Além do valor em si que cada espécie carrega, como parte da obra de Deus, a biodiversidade é essencial para a vida humana, pelos serviços ecossistêmicos que pode oferecer.
Numa leitura atenta da Laudato Si’, encontramos o termo biodiversidade sendo mencionado por 13 vezes! Olhando para o que o Papa Francisco nos afirma na Laudato Sì, percebemos mais uma vez a incomensurável importância e o valor que tem a manutenção da diversidade ecológica para a manutenção da Casa Comum, o que vem sendo atestado através de várias pesquisas científicas, que anualmente têm seus resultados publicados por renomadas revistas científicas conhecidas mundialmente.
O valor da biodiversidade tem sido amplamente reconhecido por governos e pela sociedade civil como um todo, além da preocupação cada vez mais crescente por parte das grandes religiões acerca do cuidado com a Casa Comum.
Para nós, católicos comprometidos com o cuidado para com a Criação, não tem sido diferente! E a Carta Encíclica Laudato Si’, desde que foi publicada em 2015, tem nos ajudado a despertar-nos cada vez mais para essa problemática.
A perda de biodiversidade – convém lembrar – é um evento natural que sempre ocorreu na natureza, haja vista que os processos evolutivos levaram, ao longo da História natural, à extinção de muitas espécies, por não terem apresentado o que nós, cientistas, chamamos de sucesso evolutivo.
O que temos constatado, todavia, é que essa perda de biodiversidade foi drasticamente potencializada, agravando-se ao longo dos últimos dois séculos, principalmente, por consequência da ação antrópica. Em outras palavras, a espécie humana, por meio de sua ação e intervenção na natureza, acelerou a extinção e desaparecimento de espécies da fauna e da flora, pela sua forma indiscriminada de explorar e extrair os recursos naturais.
Estima-se que a taxa de extinção de espécies, atualmente, deve ser até 1.000 vezes maior que a taxa natural, justamente por consequência dessa maléfica intervenção humana. E sobre isso nos afirma a LS: “Não temos o direito de fazê-lo.” (LS 33).
Alguns acordos internacionais têm sido feitos nas últimas décadas, objetivando estancar essa perda acelerada de espécies, que tem como fator intrinsecamente conectado o aumento gradativo da temperatura global, além da exploração e devastação descontroladas de áreas naturais para serem utilizadas para fins agropecuários.
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Isso mesmo: a indústria agropecuária tem sido a principal responsável pela degradação de importantes biomas (no Brasil, por exemplo, a Amazônia), a fim de criar novas áreas de pasto e de plantio de monoculturas, o que tem levado à perda e extinção de espécies até mesmo ainda desconhecidas pela Ciência!
Ainda na linha de uma preocupação com a taxa crescente de perda da biodiversidade, podemos citar, por exemplo, que desde a década de 60 a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) estabeleceu a elaboração das chamadas Listas Vermelhas de Espécies Ameaçadas de Extinção e os ‘Red Data Books’ (Livros de Dados “Vermelhos”), e que desde o início conta com bases científicas para sua elaboração, adquirindo proporções mundiais de uso e de aplicação. Tais listas tornaram-se, desde então, um importante recurso para compilar e fornecer informações valiosas sobre o estado de conservação de espécies, com diferentes critérios para classificar as ameaças e vulnerabilidades das milhares de espécies já conhecidas e estudadas em todo o planeta.
É extremamente importante combater a emergência climática e a crise da biodiversidade juntas. É assim que nós, como pessoas católicas, podemos viver nossa fé e cuidar de todos os membros da criação.
Somos chamados/as a assinar a petição “Planeta Saudável, Pessoas Saudáveis” que instruirá as lideranças mundiais nas duas próximas Conferências das Nações Unidas sobre como cuidar de nossa casa comum da maneira que o Papa Francisco nos ensina na Laudato Si’.
Em novembro, na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), os países devem anunciar seus planos para cumprir as metas do histórico acordo climático de Paris de 2015.
Na Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP15), em outubro, as lideranças mundiais poderão definir metas significativas para proteger a Criação. Tais metas são extremamente necessárias para que se definam planos de manejo e conservação da biodiversidade e deverão ser assumidas pelos países como decisão que virá a ter um impacto significativo na redução ou estagnação das taxas de perda da biodiversidade.
Frei Wellington Buarque é Frade da Ordem dos Frades Menores e pertence à Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil, com sede em Recife.
Perguntas para refletir:
- Pense nas diferentes espécies que você encontra em sua vida diária. Você pensa nelas como membros da criação? Se não, que passos você pode tomar para adotar uma abordagem que veja todos os membros da criação como parte do reino de Deus?
- Assinar a petição “Planeta Saudável, Pessoas Saudáveis” é um começo para garantir que as lideranças mundiais abordem a crise da biodiversidade e a emergência climática. Qual seria outra maneira de ampliar este trabalho, vivendo sua fé e ajudando a espalhar a palavra?
A reflexão acima foi adaptada do Encontro Laudato Si’ de julho. O recurso espiritual é produzido mensalmente para Animadores Laudato Si’, Círculos Laudato Si’ e pessoas católicas comuns para que usem e lhes ajude a se aproximarem de nosso Criador.
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