Em uma denúncia profética da indústria de combustíveis fósseis, os bispos filipinos pediram aos católicos que desinvistam de combustíveis fósseis e não aceitem mais doações das empresas que os produzem, dados os danos que estão causando à nossa casa comum.

A declaração de sete páginas publicada recentemente também encoraja as dioceses a incorporar melhor a Laudato Si’ do Papa Francisco em seus programas educacionais, além de institucionalizar celebrações anuais que ajudem os fiéis a cuidar da nossa casa comum, incluindo a Semana Laudato Si’ e o Tempo da Criação ecumênico.

A crise climática já matou milhares e afetou milhões nas Filipinas, uma nação insular do sudeste asiático suscetível à elevação dos mares e às tempestades que provavelmente se agravaram devido ao aquecimento do planeta.

Aqui estão cinco pontos sobre a declaração da Conferência Episcopal Católica das Filipinas, intitulada “Um apelo à unidade e ação em meio a uma emergência climática e à crise planetária”, em tradução livre.

 

1. Ecoando o Papa Francisco e o Vaticano: desinvestir já.

Os bispos fizeram um chamado urgente às instituições para usarem sua posição de acionistas para criar um futuro mais seguro, desinvestindo de combustíveis fósseis e reinvestindo em energia renovável.

“Através dos esforços de muitos membros da Igreja e da sociedade civil, estamos agora ainda mais conscientes de que muitas das instituições financeiras nas quais depositamos nossa confiança foram fundamentais para o aumento dos combustíveis fósseis, bem como de outras indústrias destrutivas e exploradoras, como as de mineração e extração de madeira”, diz o comunicado.

“É inaceitável que as finanças tão amavelmente oferecidas a nós sejam usadas por tais indústrias… Assim, afirmamos nosso compromisso de desinvestir do carvão e de outras atividades destrutivas.”

Ao reafirmar seu compromisso com o desinvestimento de combustíveis fósseis, os bispos estão se juntando ao Vaticano e ao Papa Francisco, além de inúmeros outros líderes religiosos, que pediram às pessoas de fé que coloquem seu dinheiro onde estão seus valores e desinvistam de combustíveis fósseis.
ASSISTA: Líder do Vaticano exorta as instituições a seguirem o convite do Papa Francisco e desinvestir de combustíveis fósseis

2. Chega de doações de combustíveis fósseis

Décadas atrás, membros oficiais da Igreja Católica na Itália e em outros lugares deixaram de aceitar doações da máfia. Os bispos filipinos estão pedindo uma política semelhante em relação às empresas de combustíveis fósseis.

Os bispos pedem uma “política de não aceitação de doações de qualquer tipo, de proprietários, operadores ou quaisquer representantes de indústrias extrativas, especialmente as de carvão, gás fóssil, mineração, pedreiras, madeireiras, etc. (independentemente da escala de sua operação)”.

Erin Lothes, professora adjunta de teologia na Universidade St. Elizabeth’s (EUA), chamou a recusa por parte dos bispos de aceitar esses fundos de “atitude impressionantemente poderosa, fruto do seu conhecimento direto dos intensos danos que esses combustíveis causam”.

Ela incentivou outros bispos pelo mundo a se unirem aos bispos filipinos no estabelecimento dessas políticas tão fortemente proféticas. “Não temos o direito de perpetuar o consumo de combustíveis fósseis: esta é a hora de acelerar a transição para a infraestrutura de energia limpa por meio do desinvestimento, comprando energia limpa em sua concessionária sempre que possível e buscando outros meios de reduzir o uso de energia e aumentar a eficiência energética. Todos nós podemos tomar essas medidas”, disse Lothes, que também trabalha como Gerente de Programa Sênior do programa de Animadores Laudato Si’, do Movimento Laudato Si’.

“O Papa Francisco e o testemunho profético e compassivo dos bispos filipinos convidam todos os católicos a examinar seus laços financeiros com os combustíveis fósseis destrutivos e passarem a ser parte da economia de energia saudável e limpa do futuro, que é uma atitude alegre e esperançosa baseada no amor para com o nosso próximo e as gerações futuras.”

3. O futuro das Filipinas está em jogo

Os bispos reconhecem que as Filipinas já foram devastadas pela crise climática e que o futuro do país, assim como os limites ecológicos do planeta, estão em jogo.

“Como uma das nações mais vulneráveis ​​nesta era de emergência global, as Filipinas têm o imperativo moral de buscar o caminho do desenvolvimento mais sustentável possível para o bem das gerações atuais e futuras”, diz o comunicado.

A crise climática já matou milhares e deslocou milhões em todo o país. Algumas das tempestades mais fortes do mundo esmagaram as Filipinas nos últimos anos.

PODCAST: Por que o sobrevivente do tufão Haiyan A.G. Saño trabalha pela justiça climática

Em 2013, o tufão Haiyan provocou ventos de até 300 km/h e matou até 15.000 pessoas, embora o número exato de mortos talvez nunca seja conhecido. No início deste ano, o tufão Rai, com ventos de até 250 km/h, destruiu 1,5 milhão de casas e deixou mais de 400 mortos.

Os cientistas dizem que o aquecimento global pode ser o responsável por essas tempestades tão fortes. O oceano absorve o calor das emissões de gases de efeito estufa, e oceanos mais quentes podem criar tempestades mais poderosas porque têm mais vapor de água para coletar durante sua formação.

“Continuamos sofrendo com um mundo cada vez mais quente e uma biosfera doente, desencadeada por práticas de exploração que beneficiam poucos ricos, mas causam pobreza e fome a muitos”, diz o comunicado.

PODCAST: Padre Tony Labiao, das Filipinas, sobre tempestades no país

4. Liderar pelo exemplo

As instituições católicas nas Filipinas devem dar o exemplo usando energia renovável em suas instalações e comunidades, priorizando a educação ecológica e promovendo a Laudato Si’.

Os bispos pedem explicitamente que as dioceses criem um “Escritório de Ecologia” e, caso já o tenham, que o priorizem financeiramente para apoiar suas atividades. Eles também incentivam “congregações, escolas, comunidades e organizações a contribuir significativamente com o apelo ao desinvestimento por meio de campanhas e programas educacionais”.

Finalmente, os bispos retomam o capítulo seis da Laudato Si’, “Educação Ecológica e Espiritualidade”, em que o Papa Francisco exalta a importância de uma educação ecológica. Eles defendem o estabelecimento de uma estrutura e/ou orientação para escolas Laudato Si’.

“Surge, assim, um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará longos processos de regeneração.” (LS 202).

5. Celebrar a Semana Laudato Si’ e o Tempo da Criação

A Igreja Católica global se reunirá para a Semana Laudato Si’ 2022, que será realizada de 22 a 29 de maio, para se alegrar com o progresso que fizemos para dar vida à Laudato Si’ e intensificar nossos esforços por meio da Plataforma de Ação Laudato Si’

Os bispos filipinos querem que todos participem da celebração. Eles calorosamente convidam todos os católicos a “institucionalizar a celebração do Tempo da Criação e da Semana Laudato Si’ para nutrir nossa espiritualidade e despertar nossa identidade como membros de uma comunidade única e sagrada da Terra, chamada a cuidar da nossa casa comum e de toda a vida existente nela”.

O Tempo da Criação ecumênico que acontece anualmente de 1º de setembro a 4 de outubro, reunirá mais uma vez os 2,4 bilhões de cristãos do mundo em oração e ação pela nossa casa comum. O tema para o Tempo da Criação de 2022 é: “Ouça a Voz da Criação”.

ASSISTA: Divulgação do tema do Tempo da Criação 2022