O arcebispo de Glasgow, Dom William Nolan, exortou todas as instituições católicas a desinvestirem de combustíveis fósseis como forma de viver sua fé e trabalhar contra a emergência climática e a crise da biodiversidade. No fim das contas, Dom Nolan chegou a dizer: “Será uma vergonha para qualquer instituição católica não ter desinvestido”.

Em novembro passado, em seu posto anterior como Bispo de Galloway (Escócia), ele foi fundamental para conduzir a Conferência dos Bispos Católicos da Escócia no processo de desinvestimento de combustíveis fósseis antes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em Glasgow.

A conferência dos bispos participou do maior anúncio conjunto de desinvestimento por parte de instituições religiosas em todos os tempos. Ao todo, 72 instituições religiosas de seis continentes, com mais de 4,2 bilhões de dólares em ativos combinados sob gestão, anunciaram seu compromisso de desinvestir de combustíveis fósseis em novembro passado.

O próximo anúncio global de desinvestimento de instituições religiosas ocorrerá em 5 de julho. Junte-se a mais de 300 instituições católicas e comprometa-se com o desinvestimento.

Em uma conversa que ocorreu antes de sua nomeação como arcebispo pelo Papa Francisco, Dom Nolan compartilhou detalhes da jornada de desinvestimento da Conferência dos Bispos Católicos da Escócia, falou sobre por que o desinvestimento não é um gesto puramente simbólico e por que a Laudato Si’ do Papa Francisco transformou a Igreja Católica.

Nota do editor: A conversa foi editada para fins de brevidade e clareza.

Sobre o movimento global de desinvestimento de combustíveis fósseis

Dom Nolan: “Há alguns anos, quando ouvi falar pela primeira vez sobre o movimento global de desinvestimento, meu sentimento foi que isso era, na verdade, uma coisa puramente simbólica. Que diferença faria para as empresas de petróleo com suas vastas riquezas? Mas o movimento vem crescendo. 

E é sempre muito mais do que simbólico. Mas mesmo assim há vários argumentos que são usados ​​contra o desinvestimento. Por exemplo, que ainda precisamos de combustíveis fósseis. Precisamos de petróleo e gás. Eles mantêm os nossos carros em movimento e as nossas casas aquecidas. Então, estamos em um período de transição, e enquanto estamos nesse período, ainda precisamos que essas petroleiras continuem como antes. Mas não é aceitável apenas manter o status quo.

Há também argumentos de cunho econômico. Na Escócia, por exemplo, até 20% de nossa economia é baseada na indústria de petróleo e gás. Então as pessoas dizem: ‘Isso é irresponsável. E quanto a todos esses empregos e todas essas pessoas?’ Então esse foi outro argumento que meio que continuamos enfrentando.

Mas, no fim das contas, percebemos que, claro, ainda precisamos de petróleo e gás agora, mas temos que fazer a transição. Temos que avançar nessa direção. Se você está investindo nessas empresas, está lucrando com a atividade delas, e não é certo lucrar com petróleo e gás quando sabemos que essas coisas causam tanta poluição a todo o meio ambiente da Terra.”

Sobre por que todas as instituições católicas precisam se comprometer a desinvestir de combustíveis fósseis

Dom Nolan: “Acho que vai chegar um ponto em que será uma vergonha para qualquer instituição católica que não tenha desinvestido. Isso passou de ser um gesto puramente simbólico para algo muito, muito maior. Porque agora estamos defendendo, e o Papa Francisco também está defendendo, uma mudança completa de estilo de vida. Temos que mudar nosso estilo de vida. Então temos que ir fundo… É só um pequeno passo, o desinvestimento. É só o começo, mas temos que dar esse pequeno passo.”

Sobre quanto a Laudato Si’ do Papa Francisco influenciou o mundo

Dom Nolan: “A Laudato Si’ é um documento impressionante. Por muitos anos, a Igreja se manteve muito silenciosa sobre a questão ambiental, essa crise ambiental, e então a Laudato Si’ entrou e juntou tudo e garantiu que tudo fosse integrado. E isso faz parte de uma questão religiosa, não apenas uma questão climática. É uma questão da criação de Deus, e nossa reverência para com Deus e Sua criação…

O documento em si, acho que foi um divisor de águas para a Igreja Católica e um divisor de águas para o movimento ambientalista, e seus efeitos ainda estão crescendo.”

Junte-se a mais de 300 instituições católicas: Comprometa-se a desinvestir de combustíveis fósseis