“Se é verdade que ‘onde está o nosso tesouro, aí está também o nosso coração’ (Mt 6, 21), então não podemos ser fiéis à nossa fé quando ganhamos dinheiro com combustíveis fósseis. Não podemos ser fiéis a Jesus se ganhamos dinheiro com o sofrimento dos outros”, disse a Reverenda Abby Mohaupt, Diretora de Educação e Formação da GreenFaith.
De fato, quando desinvestimos fazemos “uma mudança moral e social. Como pessoas de fé, temos o poder de eliminar os combustíveis fósseis”, acrescentou ela.
O último relatório climático das Nações Unidas (IPCC) forneceu dados convincentes sobre a perda de biodiversidade: “Ele não mede as palavras, mas nos diz a verdade”, disse Martin de Jong, consultor de advocacy da Cáritas Aotearoa Nova Zelândia, integrante do Conselho Mundial de Membros do MLS.
Leia agora o resumo do último relatório do IPCC
Nesse contexto, o Movimento Laudato Si’ organizou um encontro para responder a diversas questões sobre o relatório e analisar por que ele é tão importante para diferentes regiões do mundo, contando com a presença de importantes palestrantes, dentre os quais Mohaupt e Jong. O encontro foi moderado pela Dra. Carmody Grey, Professora Associada de Teologia Católica na Universidade de Durham, no Reino Unido.
Retardando o desenvolvimento humano integral
O padre Joshtrom Isaac Kureethadam, coordenador de Ecologia e Criação do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, respondeu à pergunta sobre o que as comunidades podem fazer diante desse relatório.
Para ele, é fundamental “recuperar a visão da ecologia integral. As comunidades de fé devem mostrar um olhar humano para o problema da perda de biodiversidade. Por trás de tudo isso estão vidas humanas em sofrimento”, destacou. Portanto, esse problema “está retardando o desenvolvimento humano integral”.
O padre está preocupado com o fato de que “3,3 bilhões de pessoas serão afetadas pela crise climática em diferentes regiões”. É por isso que “a crise climática deve ser chamada de emergência climática”, afirmou.
O Padre Joshtrom também lembrou que em 2021, em Glasgow, numa reunião entre o Vaticano e os diretores do IPCC, eles disseram que o que amam no Papa Francisco é a ideia da ecologia integral.
“Os combustíveis fósseis são os que lideram esta crise. Temos que unir nossos esforços no desinvestimento. Acabar com eles é o caminho para um mundo sustentável e pacífico.”
Ele recomendou que as comunidades participem da Plataforma de Ação Laudato Si’, da qual já participam universidades, paróquias e grupos católicos que buscam contribuir para a mudança ecológica.
Saiba mais aqui e inscreva-se na Plataforma de Ação Laudato Si’
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Uma economia que mata
Da Zâmbia, o padre Charles Chilufya, coordenador do Grupo de Trabalho sobre a África da Comissão para a Covid-19 do Vaticano, mencionou as “perdas de vidas” apontadas no relatório do IPCC: “As casas que se foram com a chuva são, na realidade, seres humanos e suas vidas que estão partindo”.
“Na África estamos sofrendo com a crise climática, que nos afeta muito porque existem corporações multinacionais que vêm tirar nosso poder”, detalhou Chilufya, incentivando as pessoas a “levantar suas vozes por uma nova economia para o continente”.
“O problema é que temos uma economia que mata, que permite o investimento em combustíveis fósseis sem considerar as consequências. Os governos querem continuar com este gasoduto apesar de saberem do impacto negativo que ele causa nas pessoas”, disse o padre.
Ele observou que a fé é o caminho para “pedir uma economia que dê vida. Porque atualmente o que estamos enfrentando é um problema ético”.
Contra os povos indígenas
Por sua vez, Dom Miguel Angel Cadenas Cardo, Bispo de Iquitos, Peru, na Amazônia peruana, destacou a importância da transição energética, incentivando as instituições a desinvestirem de combustíveis fósseis.
O bispo informou que na área da fronteira entre o Peru e o Equador há extração de hidrocarbonetos e, apesar de ser um território em que vivem vários povos indígenas, “a extração é projetada a partir das identidades nacionais, contra os povos indígenas”.
“Apenas entre 3 e 4% do que é extraído é reinvestido na Amazônia”, disse ele, também listando os bilhões de toneladas de metais pesados que são despejados como resíduos nos rios amazônicos.
Em seguida, Davide Panzeli Bio, diretor de assuntos europeus e ligação com as redes europeias da ECCO, mencionou que “a transição tem um custo em relação à vida das pessoas”, razão pela qual apelou para caminharmos passo a passo.
Além disso, destacou a importância de investir o dinheiro “nas novas matrizes energéticas, em energias verdes sustentáveis e novas”.
Por fim, Svitlana Romanko, ucraniana e chefe da campanha Zero Combustíveis Fósseis do Movimento Laudato Si’, fez um breve discurso no qual afirmou que “os combustíveis fósseis são uma arma de destruição em massa”.
“A Europa está despertando para sua dependência do gás russo. Apelamos por justiça e paz a todas as instituições que estão comprometidas com uma transição justa. Como católicos, estamos contribuindo para evitar a destruição da criação e essa guerra devastadora. Temos que assumir um compromisso econômico e ético de desinvestimento”, ressaltou, incentivando as instituições a aderirem ao próximo anúncio de desinvestimento, em 5 de julho.
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