Católicos do mundo inteiro ficaram decepcionados com os acordos estabelecidos que consideraram insuficientes mas, ao mesmo tempo, estão esperançosos diante de uma sociedade comprometida com o combate à crise climática.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas terminou há poucos dias, após quase duas semanas de negociações entre lideranças e reivindicações da sociedade. O Acordo Final da COP26 foi tornado público, causando decepção entre os católicos de todo o mundo que estiveram presentes em Glasgow para levantar suas vozes em nome da nossa casa comum participando de mobilizações, encontros e iniciativas inovadoras.

Quando o documento final foi conhecido, o diretor executivo do Movimento Laudato Si’, Tomás Insua, disse que “os líderes mundiais mais uma vez ficaram aquém do que o Papa Francisco e muitos outros esperavam da cúpula da ONU em Glasgow. O acordo final não chega nem perto da crise climática que vivemos. É ultrajante.” Mas acrescentou que, como visto em Glasgow e ao redor do planeta em marchas, atividades e encontros “o movimento global para cuidar da nossa casa comum é mais forte do que nunca e não vai parar”, além de afirmar que “com parceiros em todo o mundo, este movimento continuará o trabalho urgente de salvar a Criação de Deus”.

Já na passada quarta-feira, a Santa Sé tinha manifestado através da divulgação de um comunicado que mantinha a esperança de um acordo com “um roteiro claro” para preencher as lacunas que surgiram nas áreas de mitigação, adaptação e financiamento, aspectos fundamentais que devem devem ser tratados, reforçados e renovados a fim de atingir os objetivos do Acordo de Paris.

Por sua vez, mais de 60 organizações católicas, incluindo o Movimento Laudato Si’, emitiram uma declaração conjunta na última sexta-feira em que expressaram que “uma economia extrativa e insustentável, alimentada por combustíveis fósseis, está causando a crise climática que está destruindo a criação de Deus e prejudicando os mais vulneráveis”, e apelaram por medidas essenciais que acelerem o investimento num futuro de energia limpa para todos.

Com petições, anúncios de desinvestimento, um filme e manifestações, os católicos se fizeram presentes na COP26

Milhares de católicos de todo o globo se reuniram em Glasgow durante a Conferência das Partes para fazer ecoar o grito de socorro da terra e dos mais afetados pela atual crise climática. Ao longo das quase duas semanas de negociações, participaram de inúmeros eventos e iniciativas para fazer chegar aos líderes as suas reivindicações, como no caso da apresentação da petição Planeta Saudável, Pessoas Saudáveis (thecatholicpetition.org/pt), que apoia o apelo do Papa Francisco para uma ação urgente pelo cuidado da casa comum, e trazendo as assinaturas de mais de 130.000 católicos e 425 organizações parceiras.

As comunidades religiosas representam 80% da população mundial e por isso os católicos, compreendendo seu papel fundamental nas ações de preservação do planeta, anunciaram dias antes do encontro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas que mais de 70 organizações assumiriam um novo compromisso de 4,2 bilhões de dólares em desinvestimento de combustíveis fósseis, somando-se assim às 1.485 organizações com ativos combinados de 39 trilhões de dólares que já realizaram algum tipo de desinvestimento, conforme consta do relatório “Divest Invest 2021”.

Além disso, na última terça-feira, o The New York Times promoveu a estreia do “tapete verde” em que foram exibidos trechos do documentário “Laudato Si’”, produzido pela Off The Fence, produtora de filmes vencedores de um BAFTA e um Oscar. O longa-metragem, que estreará como YouTube Originals no ano que vem, fala sobre a encíclica ambiental do Papa Francisco e conta as histórias de pessoas que enfrentam os efeitos da crise planetária enquanto constroem laços para enfrentar o futuro com esperança.

Lorna Gold, presidente do conselho administrativo do Movimento Laudato Si’, disse durante o encontro chamado de “Católicos em Glasgow” que outra COP estava acontecendo nas ruas e que, enquanto os líderes mundiais debatiam as medidas a serem tomadas, havia cerca de 100.000 pessoas como Isabella Harding, uma avó de 67 anos, ou as freiras e animadoras Laudato Si’, Kate Midgley e Zoe Leadbetter, participando de uma marcha sem precedentes no Dia de Ação Global pela Justiça Climática, mesmo enfrentando chuva e vento.

Os católicos continuarão falando sobre o cuidado com o meio ambiente. É por isso que lançaram recentemente a Plataforma de Ação Laudato Si’ como um espaço para instituições, movimentos e dioceses compartilharem suas ações em favor do planeta.