Para comemorar o Dia Mundial da Justiça Social, Mireille D. Church, do Care for Creation and Environmental Stewardship Office (Escritório de Tutela Ambiental e Cuidado da Criação), da Arquidiocese de Ottawa, junta-se a nós na seção Guardiões da Terra para nos ajudar a entender a intersecção entre a justiça social e o cuidado da criação.

Mireille D. Church

Em 2021, 83,9 milhões de pessoas foram deslocadas à força no mundo inteiro devido a razões como perseguição, conflito e violência.

Por que existe tanto ímpeto para expulsar alguns seres humanos da terra em que nasceram, onde vivem e trabalham?

Agora sabemos que a mudança climática é um multiplicador de ameaças: isso quer dizer que por causa da desertificação, secas e inundações que resultam de um planeta cada vez mais quente; devido à redução da oferta de terra e acesso aos recursos naturais, como a água; devido à perda de biodiversidade e habitats que deslocam os peixes e outros animais necessários para a vida dos seres humanos, é mais provável que ocorram conflitos armados e agitação social para garantir a posse de terras e recursos valiosos reduzidos, e mais pessoas vão em busca de terras mais férteis, emprego mais acessível, condições de vida mais tranquilas, etc…

A ligação entre a mudança climática, a pobreza das pessoas e o deslocamento foi traçada. O que podemos fazer a respeito disso? Enviar dinheiro para ONGs que ajudam a humanizar a vida nos campos de refugiados não é suficiente! Como podemos dormir à noite sabendo que os seres humanos mal estão protegidos e não têm acesso à sua própria privacidade, instalações sanitárias, educação regular ou acesso a serviços que aqui no Canadá são parte natural da vida?

Foi essa cena que inspirou o Papa Francisco a pesquisar mais. Ele convidou quatro jovens de vários continentes para compartilhar sua experiência pessoal sobre as mudanças climáticas e o impacto dessa mudança em sua comunidade. Isso foi registrado no filme A Carta, lançado há poucos meses.

Ao conhecer esses jovens e realmente escutá-los, o Papa Francisco decidiu agir… Chamou toda a humanidade a prestar atenção no grito dos pobres e o grito da terra que se lamenta e afeta nossa experiência humana no planeta.

Ele escreveu uma carta encíclica, que normalmente é reservada ao público católico. Desta vez, porém, dirigiu essa carta como um convite a todos os crentes e não crentes e deu crédito à comunidade científica internacional e aos povos indígenas ao redor do mundo, que estão soando o alarme e oferecendo uma nova maneira de fazer as coisas. Os jovens estão atraindo líderes em todo o mundo.

É aqui que a Justiça Social e o Cuidado da Criação se cruzam. Se os países ricos consumirem menos, haverá mais por aí. Menos lixo e desperdício, menos impacto dos gases de efeito estufa que podem piorar a situação. O resultado destes encontros e diálogos entre o Papa e os jovens deu vida à carta encíclica publicada em 2015 intitulada Laudato Si’, apontando para a nossa responsabilidade pessoal e coletiva de cuidar da terra e uns dos outros.

Os holofotes agora estão em ouvir o grito da terra e o grito dos pobres. Ambos estão intimamente ligados. Só podemos tratar os pobres com justiça e generosidade restaurando uma abordagem equilibrada para usufruir da generosidade da terra. Limitando o frenesi da compra excessiva dos consumidores, que armazenam e acumulam a parte que pertence legitimamente aos outros em seus próprios celeiros e armários escondidos. Lembro-me da brutal série de filmes Jogos Vorazes, em que explorar e assistir a luta dos pobres pela sobrevivência se tornou um espetáculo para os ricos. E pergunto: foi apenas ficção?

Sobre Mireille D. Church: Quando Mireille se mudou de Montreal, onde nasceu e foi criada, para Ottawa quando adulta, sentiu-se atraída pela abundância de espaços verdes e a proximidade de cursos d’água. Como amante do ar livre e membro ativo de sua comunidade de fé católica, ela tem usado sua formação em Recursos Humanos e Educação para apoiar os jovens, promover o amor à Criação e viver o chamado da Laudato Si’ nas atividades cotidianas. Atualmente é responsável pela pastoral de Cuidado da Criação na Arquidiocese de Ottawa-Cornwall, em Ontário, e leciona na Faculdade de Educação da Universidade de Ottawa.