Intenção mensal
Oração de São Patrício
A Quaresma nos mostra como preencher os ‘desertos interiores’
Salvando o que resta de uma humanidade silenciosa, usada e abusada
O Lago Marózek como abrigo para todos
O Centro Laudato Si’ alimenta atitudes necessárias para cuidar da criação
Santo Oscar Romero
“Temos a Laudato Si’ como nossa bússola social”
Arrependimento
Março 2022
Intenção mensal
Por Laura Morosini
Diretora de Programas Europeus, Movimento Laudato Si’
Se “os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos”, a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. (LS 217)
Deus amado, nesta Quaresma, enquanto estamos apreensivos com o que está acontecendo na Ucrânia, somos convidados a viver uma conversão ecológica tão profunda que fique “evidente” em nossas “relações com o mundo ao nosso redor”. Nosso compromisso é suficientemente evidente? Encontramos maneiras de compartilhá-lo com os nossos companheiros de viagem? Dedicamos tempo para aprofundar nosso compromisso em nossos desertos? Que o Senhor, com o testemunho de nossos irmãos e irmãs na Europa que escreveram e compilaram o Encontro Laudato Si’ deste mês, nos guie para encontrar as respostas neste tempo.
Oração de São Patrício
Eu me levanto hoje
Pela força do Céu;
Luz do sol,
Esplendor do fogo,
Velocidade do relâmpago,
Rapidez do vento,
Profundidade do mar,
Estabilidade da terra,
Firmeza da rocha.
Eu me levanto hoje
Pela força de Deus para me pilotar;
o poder de Deus para me sustentar,
a sabedoria de Deus para me guiar,
o olho de Deus para olhar à minha frente,
o ouvido de Deus para me ouvir,
a palavra de Deus para falar por mim,
a mão de Deus para me guardar,
o caminho de Deus para se estender diante de mim,
o escudo de Deus para me proteger,
as hostes de Deus para me salvar.
Perto e distante,
Sozinho ou na multidão.
Cristo, protege-me hoje
Contra as feridas
Cristo comigo, Cristo diante de mim, Cristo atrás de mim,
Cristo em mim, Cristo abaixo de mim, Cristo acima de mim,
Cristo à minha direita, Cristo à minha esquerda,
Cristo quando me deito, Cristo quando me sento,
Cristo no coração de todos os que pensam em mim,
Cristo na boca de todos os que falam de mim,
Cristo nos olhos que me vêem,
Cristo nos ouvidos que me ouvem.
Eu me levanto hoje
Pela poderosa força
Do Senhor da criação.
A Quaresma nos mostra como preencher os ‘desertos interiores’
Se “os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos”, a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. […] Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. (LS 217)
Jesus, pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto durante quarenta dias, e tentado pelo diabo. Nada comeu nesses dias e, passado esse tempo, teve fome. (Lucas 4, 1-2)

Marta Abramczyk
Por Marta Abramczyk
Amiga do Movimento Laudato Si’ Polônia
A passagem citada do Evangelho de São Lucas nos leva ao deserto onde Jesus enfrenta o diabo. Jesus é tentado pelo diabo, mas sai vitorioso.
Na tradição da Igreja, as três tentações de Jesus são a tentação de satisfazer os sentidos (gula, luxúria), poder e riqueza (ganância) e ostentar-se (orgulho, vaidade), contra as quais São João nos adverte em sua primeira carta : “Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o orgulho da riqueza – não vem do Pai, mas do mundo” (1 João 2, 16).
O remédio para essas três tentações são as três práticas seguidas especialmente durante a Quaresma, isto é: oração, esmola e jejum. As Escrituras as recomendam como uma forma de exercício (Mateus 6, 1-18; 1 Coríntios 9, 25-27; 1 Timóteo 4, 7- 8).
Através do jejum e de outras formas de renúncia, aprendemos a nos controlar. Ao dar esmolas, aprendemos a desapegar das coisas materiais e evitar criar falsas necessidades para nós mesmos. Através da oração, especialmente quando baseada na Sagrada Escritura, como fez Jesus, nos colocamos humildemente diante de Deus, confiando na graça do Senhor.
O deserto onde ocorre esse confronto também pode ser comparado com o interior humano. Há um certo vazio em todos nós que achamos difícil de suportar e precisa ser preenchido. Se não fizermos nada a respeito dele ou simplesmente o preenchermos com substitutos – coisas que podem ser compradas, prazeres e diversão, pecado ou mesmo certos tipos de relacionamentos – isso acabará prejudicando não apenas a nós mesmos, mas também o nosso próximo, a nossa sociedade e o mundo que nos cerca.
“Os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos.” Essas palavras de Bento XVI soam particularmente fortes hoje, no tempo das crises ecológicas e sociais, ao mesmo tempo que apontam para as suas causas mais profundas.
Mas como lidar com esse vazio interior, como preenchê-lo? “Nosso coração está inquieto até que descanse em Deus”, diz Santo Agostinho. E sim, somente Deus é a fonte que pode preencher verdadeiramente esse vazio, trazer paz, harmonia e realização. É Deus quem nos dá o poder de resistir à tentação, de nos afastarmos do mal e nos voltarmos para o bem, a beleza, o amor e a verdade.
Prestemos atenção novamente na primeira frase da nossa passagem. O Evangelho diz que Jesus foi “repleto do Espírito Santo” no deserto e essa é a pista mais importante para nós. Nós também devemos ser cheios do Espírito Santo! Recebemos o Espírito Santo nos sacramentos do batismo e da confirmação, mas devemos convidá-lo constantemente a entrar na nossa vida para guiar nossos caminhos e nossos desertos interiores para preenchê-los. E então, diz o profeta Isaías (32, 15-17):
“(…) o deserto se tornará um campo fértil, e o campo fértil será tido como floresta.
O direito habitará no deserto, e a justiça habitará no campo fértil.
O fruto da justiça será a paz; e a obra da justiça consistirá na tranquilidade e na segurança para sempre.”
Vinde Espírito Santo!
A autora gostaria de mencionar O Evangelho de Lucas (Comentário Católico sobre a Sagrada Escritura), de Pablo T. Gadenz, que a auxiliou nesta reflexão.
Salvando o que resta de uma humanidade silenciosa, usada e abusada
Ouvindo o grito da Criação
Por Matilde Calandrelli e Edoardo Barbarossa
Círculo Laudato Si’, Diocese de Melfi-Rapolla-Venosa na Itália; e Círculo Laudato Si’ de Modica (Itália)
No CAMS (Centro Accoglienza Migranti Stagionali, ou “Centro de Acolhimento de Migrantes Sazonais”, em tradução livre) no Palazzo S. Gervasio (Basilicata, Itália), irmãos, homens desesperados gravitam, com suas esperanças e ilusões de redenção.
O galpão em ruínas exala a presença de mais de 300 almas de pessoas invisíveis que trabalham nos campos humildemente, pacientemente, e que são exploradas todos os dias apenas para garantir a sobrevivência daqueles que os esperam em terras distantes. Aquele dormitório frio fala de um cansaço nunca aplacado pelo pouco tempo, entre o nascer e o pôr do sol, que os separa de um novo dia de trabalho.
É o grito de toda a criação, pois neste drama de desumanidade essas pessoas carregam consigo as feridas da sua terra, as origens negadas ou rejeitadas pela guerra ou pela pobreza, a separação das suas famílias, o cordão umbilical que nos une a todos à nossa terra. O drama dos afetos distantes, dos sonhos não realizados.
Existem acampamentos que levam as pessoas a se isolarem cada vez mais e a expressarem comportamentos conflitantes em relação a outras pessoas, principalmente se forem vistas como diferentes devido a ideias, sexo, raça ou religião. Precisamos relembrar a beleza das relações familiares, afetivas, sociais e culturais, e reconstruí-las apesar do bombardeio de visões conflitantes e da sensação de que não há mais espaço para o bem comum, no qual há também o meu e o nosso bem.
O que resta é a dignidade desses irmãos, cuja humanidade não deve e não pode ser alheia a nós.
O Lago Marózek como abrigo para todos
Ouvindo a Canção da Criação
Lake Marózek is in Mazury, or the “The Land of the Thousand Lakes” and one of the most beautiful regions of Poland. Forests and lakes provide both shelter for animals and refuge for the people who want to abandon the chaos, loudness and the fast pace of city life.
O Lago Marózek fica em Mazury, ou “Terra dos Mil Lagos”, e uma das regiões mais bonitas da Polônia. Florestas e lagos fornecem abrigo para animais tanto quanto refúgio para as pessoas que querem abandonar o caos, o barulho e o ritmo acelerado da vida da cidade.
O Centro Laudato Si’ alimenta atitudes necessárias para cuidar da criação
História de conversão ecológica

Evento “Troca do Bem”, organizado pelo Centro Laudato Si’ da comunidade Sursum Corda.
Por Pe. Paweł Drobot, CSsR
(Congregação do Santíssimo Redentor)

Pe. Paweł Drobot,
Quando ouvi pela primeira vez sobre a ecologia integral proposta pelo Papa Francisco, fiquei muito animado. Cuidar da nossa casa comum e de toda a criação é, afinal, uma responsabilidade e missão que Deus confiou à humanidade – como se vê nos primeiros capítulos do Gênesis.
Muitas vezes me sinto impotente diante de grandes processos sociais e econômicos que contribuem para a degradação do meio ambiente natural. Para mim, cuidar da nossa casa comum significa também respeitar e proteger a vida humana desde a concepção até a morte natural. Também aqui me sinto muito impotente diante da degradação dos corações e das consciências de muitas pessoas.
Como alguém envolvido na evangelização direta – pregações, retiros e missões – não tive anteriormente a oportunidade de me envolver pessoalmente em atividades estritamente relacionadas à defesa da ecologia. No entanto, isso não significa que o assunto não me interessasse.
Fui responsável por uma casa de retiros por cinco anos. Lá, pude ficar responsável pela reciclagem de resíduos. Dava a cada grupo visitante um mini treinamento e expliquei os princípios da separação de resíduos. Os efeitos foram positivos. Este é, obviamente, apenas um aspecto da ecologia integral. Afinal, seu objetivo é proteger a criação e a vida que Deus nos deu. Acho que o mais importante é dar passos pequenos, mas específicos.
Um dia fui abordado por uma mulher da comunidade Sursum Corda. Ela perguntou a minha opinião sobre ecologia. Eu disse a ela que este importante assunto poderia ser desenvolvido dentro da nossa comunidade, já que nossa principal atividade era a evangelização.
Este foi o início do nosso Centro Laudato Si’. Perseguimos objetivos pequenos, mas tangíveis, que visam a nutrir uma atitude de cuidado com a criação. Organizamos eventos regulares em Cracóvia chamados “Troca do Bem”, onde as pessoas da comunidade podem compartilhar seus pertences com os outros. Montamos um grupo nas redes sociais para facilitar a troca de mercadorias. Dessa forma, muitas coisas ganham uma segunda ou até terceira vida em vez de serem desperdiçadas.
No ano passado, durante o Advento, realizamos um encontro para mostrar como podemos nos inspirar na Laudato Si’ na preparação para o Natal. Focamos em como resistir à mentalidade de consumismo de massa, que tomou o lugar da preparação espiritual para celebrar o nascimento de Cristo, nosso Salvador.
Graças a esse encontro, percebi que cada um de nós é responsável por cuidar da nossa casa comum, seja decidindo a quantidade de produtos que compramos ou resistindo conscientemente a ser manipulados por propagandas que alimentam o consumismo insaciável, tão evidente na maratona de compras de Natal.
Mesmo a decisão muito simples de não fazer compras aos domingos é um ato de cuidado com a nossa casa comum. O domingo é, afinal, um dia de descanso para as pessoas e para a criação. Lemos na Bíblia que até Deus descansou naquele dia.
Por fim, gostaria de compartilhar mais uma coisa. Em 15 de agosto de 2021, em comemoração à Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, o Secretariado Geral para a Evangelização da Congregação do Santíssimo Redentor publicou um documento intitulado “Uma Abordagem Redentorista da Pastoral Social – Justiça, Paz e Integridade da Criação”. O documento visa a ajudar os Redentoristas e nossos associados leigos no engajamento social e comunitário.
Há também um capítulo extenso sobre como Redentoristas e leigos devem se envolver nos esforços de promoção da ecologia integral. Assim, o cuidado com a criação faz parte da missão de evangelização da Igreja.
Santo Oscar Romero
Quando se celebra: 24 de março
Santo inspirador
Oscar Romero foi arcebispo de San Salvador, de 1977 até ser assassinado em 1980. Inicialmente foi considerado uma escolha conservadora como arcebispo, mas foi se tornando cada vez mais aberto sobre as violações dos direitos humanos em El Salvador – particularmente após o assassinato de seu amigo, padre Rutilio Grande, em março de 1977.
Durante seus três anos como arcebispo, Romero denunciou repetidamente a violência e falou em nome das vítimas da guerra civil. Em uma época de pesada censura à imprensa, suas transmissões semanais de rádio eram muitas vezes a única maneira de as pessoas descobrirem a verdade sobre as atrocidades que estavam acontecendo em seu país. Defendeu o direito dos pobres de exigir mudanças políticas, postura que o tornou um adversário problemático para os governantes do país.
Um mês antes de ser assassinado, Romero escreveu ao presidente dos EUA, Jimmy Carter, pedindo aos EUA que parassem de apoiar o governo salvadorenho e fornecer armas e assessores militares. E no dia anterior ao seu assassinato, exortou os soldados e a polícia a não seguir as ordens de matar civis e parar a repressão:
“Os camponeses que você mata são seus próprios irmãos e irmãs”, pregou. “Quando você ouvir um homem lhe dizendo para matar, lembre-se das palavras de Deus: ‘Não matarás’. Em nome de Deus, e em nome deste povo sofredor, cujos lamentos sobem ao céu cada dia mais tumultuosos, eu imploro, suplico, ordeno a vocês em nome de Deus: parem com a repressão!”
O Arcebispo Romero foi morto a tiros em 24 de março de 1980, aos 62 anos, enquanto celebrava uma missa. Na década seguinte, cerca de 70.000 salvadorenhos foram mortos na guerra civil.
Romero foi uma das figuras mais impressionantes do século XX, merecendo ser lembrado ao lado de nomes como Martin Luther King e Mahatma Gandhi como um pacificador que sacrificou sua vida enfrentando a injustiça. O mundo hoje precisa desesperadamente de mais figuras como Romero – líderes com coragem, fé e amor para defender os pobres contra a injustiça.
Romero é uma figura particularmente inspiradora para centenas de milhões de católicos em todo o mundo. Não só ele falou sobre a necessidade de amar o próximo, mas corajosamente citou as injustiças que assolavam seu país. Ele nos lembra que Cristo é encontrado nas pessoas que vivem na pobreza e que não podemos ignorar o sofrimento dos nossos irmãos e irmãs necessitados.
Fonte: CAFOD
“Temos a Laudato Si’ como nossa bússola social”
Como você vai viver a Quaresma?
Por Paolo Anselmo
Círculo Laudato Si’ de Vallesusa (Itália)
O Círculo Laudato Si’ Vallesusa nasceu em 2020 na sequência do curso de Animadores Laudato Si’, que aconteceu durante o confinamento. Colaboramos estreitamente com a Diocese de Susa.
O Círculo nasceu para unir em oração pessoas que sentem, dentro de si, o desejo de se comprometer com a Terra e com os pobres. Este compromisso com a criação, com a ecologia integral, nos dá muitas motivações para realizar uma série de ações concretas em nosso território.
Dentre elas, os nossos Animadores da Laudato Si’ estão enagajados com o nosso pároco, Pe. Luigi Chiampo, e com outras associações do território, no serviço fronteiriço entre Itália e França, dirigido a migrantes e famílias.
Conhecemos as histórias dos migrantes (cerca de 80 por dia) que chegam de Oulx, ajudados no “Rifugio Massi” a ir para a França e os orientamos, se não pela fé, pela esperança de uma vida mais humana. Eles viajam há anos e as crianças cresceram nessa situação migratória.
Nenhum obstáculo os detém, nem burocráticos nem físicos – eles resistem a tudo. Eles também têm um brilho nos olhos: o brilho da esperança na sobrevivência e na vida digna para si e suas famílias.
Se não cuidarmos deles, negaremos a eles todas essas coisas. Então como vamos cuidar deles? Temos a Laudato Si’ como nossa bússola social. Vamos tentar implementá-la com orações e ações. Vamos olhar à nossa volta e descobrir as pobrezas sociais e morais que nos questionam e pensar em como intervir.
Somos um movimento global e tentamos entender o que podemos fazer com as nossas organizações europeias próximas a essas situações migratórias, nas quais as pessoas são submetidas a abusos e torturas inaceitáveis para nossas consciências de crentes. Façamos com que eles possam sentir nossa atenção e nosso amor, possivelmente com lugares de acolhimento.
Por isso, em comunhão de oração, nesta Quaresma, convidamos você em particular para realizar três ações:
- Todas as sextas-feiras, nos canais do YouTube e Facebook, podemos rezar juntos as estações da Via Sacra Laudato Si’, para vivenciar mais profundamente o clamor da Terra e dos pobres em memória das chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo.
- Ao longo da Quaresma, convidamos você a ter um estilo de vida mais sustentável, a optar por ter um impacto menor no nosso planeta. Começaremos reduzindo nosso consumo de carne.
- Por fim, ao longo da Quaresma promoveremos o novo curso de formação para Animadores Laudato Si’. Uma maneira maravilhosa de caminhar juntos e viver a missão do Movimento Laudato Si’ de “inspirar e mobilizar a comunidade católica para cuidar da nossa casa comum e alcançar a justiça climática e ecológica”. Somos testemunhas dessa graça que recebemos através do curso de Animadores e convidamos você, assim como nós, a divulgá-lo!