(Foto: Ann Brennan)

Por Ir. Kevin Cawley, Ph.D.

O Movimento Católico pelo Clima Metro NY e alguns animadores e animadoras Laudato Si’ se reuniram na Igreja de São Francisco Xavier, em Lower Manhattan, Nova York, no domingo 21 de abril de 2024 para receber a Irmã Laura Vicuña Pereira Manso. Irmã Laura pertence ao povo indígena Kariri do Brasil, é filha de pais migrantes e religiosa da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, formada em antropologia e especialista em psicologia social. Ela esteve em Nova York para participar do Fórum Permanente para Questões Indígenas das Nações Unidas, realizado na sede da ONU entre 15 e 26 de abril. O Irmão Kevin Cawley, da Edmund Rice International e da Universidade de Iona, foi um dos participantes do grupo que passou a tarde dialogando neste encontro.

Vários membros do grupo reuniram-se posteriormente para esta foto com a Irmã Laura (ao centro). À direita da Ir. Laura está Felipe Witchger, tradutor e idealizador do evento. Ele atua na Economia de Francisco e Clara, é cofundador da startup de investimento de impacto Catholic Impact Investing Collaborative e cofundador da Francesco Collaborative.

A Irmã Laura e outras mulheres ativistas se reuniram com o Papa Francisco em junho de 2023. Na conversa com o Papa, elas não deixaram de sublinhar a realidade socioeducativa e sócio-pastoral da Amazônia, com ênfase na missão e nos ministérios das mulheres na Igreja. Sobre este último ponto, disse a Irmã Laura que todas as presentes concordaram que “não há como voltar atrás” na missão que toda mulher desempenha na Igreja há muito tempo: “A mulher é este rosto materno da Igreja: Maria, mãe de Jesus, como mulher em serviço. E as mulheres na Igreja são aquelas que provocam as mudanças que promovem a evangelização da Igreja”. “Sem dúvida”, explicou a irmã, “nós mulheres estamos presentes em inúmeras comunidades, encorajando e motivando as pessoas a não perderem a fé e o sentido da vida. Mas o serviço que prestamos à Igreja não é reconhecido, gerando tensões que poderiam ser superadas com o reconhecimento de novos ministérios para as mulheres de acordo com a urgência da realidade sócio-pastoral da Igreja na Amazônia.”

Irmã Laura centrou suas observações nas conexões dos povos indígenas com a terra: “Viemos da terra; somos parte da terra”. As mulheres geram vida e a Amazônia é uma esperança de vida para toda a humanidade – “um ventre de humanidade”, sendo os outros a floresta boreal do Canadá e a bacia do Congo na África. Durante o recente Sínodo sobre a Amazônia, quando os indígenas estabeleceram um diálogo mais amplo, foi a periferia que falou com o centro. O Sínodo conseguiu reunir todos os fios que formam a teia do território, incluindo as suas muitas contradições, e a mensagem foi transmitida de forma mais visível por milhares de mulheres. Devemos reconhecer que o Sínodo não é o fim: é O CAMINHO. É um antídoto para a doença do clericalismo.

A Irmã Laura é vice-presidente da CEAMA, a Conferência Eclesial da Amazônia, órgão formado como resultado do Sínodo da Amazônia com o apoio da REPAM, rede eclesial liderada pelo falecido Cardeal Cláudio Hummes até sua morte. O Cardeal Hummes e o Papa Francisco foram próximos quando trabalharam no Conselho Episcopal Latino-Americano, e foi ele quem disse a Francisco, na sua eleição para o papado: “Não se esqueça dos pobres”. A CEAMA nasceu cinco meses após a publicação de Querida Amazônia, exortação pós-sinodal do Papa Francisco sobre a Região Pan-Amazônica. A Conferência acompanha as lutas dos povos amazônicos e exige respeito aos seus territórios e sua contribuição fundamental para o mundo, levando em conta todas as riquezas que a região possui. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas as mulheres estão na linha de frente na execução deste “processo”. Devido às tensões na região por causa do desmatamento, a Irmã Laura precisa ter precaução para realizar seu trabalho com os indígenas Karipuna.

A discussão revelou profundas preocupações pelo fato de o Congresso Nacional do Brasil ainda estar de acordo com os moldes estabelecidos pelo ex-presidente Bolsonaro, apesar dos esforços do atual presidente Lula para reverter alguns danos ao meio ambiente. Nancy Lorence, do Movimento Católico pelo Clima Metro NY, indagou sobre o problema das grandes hidrelétricas que continuam ameaçando comunidades indígenas. A grilagem de terras continua e os governos continuam projetando cada vez mais grandes hidrelétricas que deslocam indígenas, especialmente ao longo dos rios. Sabemos que os países em desenvolvimento da Ásia, América do Sul e África têm um potencial hidrelétrico significativo e inexplorado. Mundialmente, pelo menos 3.700 grandes usinas hidrelétricas com capacidade superior a 1 MW e 82.800 usinas menores estão em funcionamento, construção ou planejamento.

A Irmã Laura pediu ao grupo que continue pressionando os governos para que assumam compromissos com os povos indígenas. Seu apelo: que continuemos pressionando a Igreja para reunir os povos indígenas no próximo ano, na COP30 no Brasil, para exercer sua influência e pressionar a ONU a tomar medidas mais decisivas em favor deles. Ela destacou que as mulheres da igreja com as quais trabalha eram especialmente gratas ao Santo Padre pelos documentos Evangelii Gaudium, Laudato Si e Fratelli Tutti (e Laudate Deum, o mais urgente e recente). Mulheres e homens devem ser solidários para conseguir fazer frente às forças que ameaçam enfraquecer a COP 29 e a COP30 com falsas soluções. Os povos indígenas continuam clamando pela liberdade de viver em suas terras sem interferências ou ameaças. Os invasores tiram suas vidas e suas terras, mas não podem tirar seus sonhos. A Igreja profética deve continuar a luta e continuar erguendo sua voz por estes povos e por estas terras.

Também esteve presente à reunião Casey Stanton, fundador da organização Discerning Deacons que, junto com a codiretora Ellie Hidalgo, trabalha para conectar as pessoas da Amazônia e dos EUA que trabalham a questão do diaconato feminino.